quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Bons Clientes + Bons Arquitetos = Boa Arquitetura

Texto: http://usuarq.blogspot.com.br/

Uma das máximas da prática da nossa profissão é que para se obter boa arquitetura não é suficiente um bom arquiteto, é preciso que o cliente também seja bom.

Há inúmeros casos na história da arquitetura em que uma obra importante, quando mencionada, é vinculada ao seu autor e a quem o contratou, especialmente antes do surgimento da burguesia, quando os clientes eram em geral membros das elites dominantes − igreja e realeza, para ser mais preciso. A Roma de Sixto V, a Paris dos Luizes, etc., é que se pode ler nos livros de história.

Na nossa própria época há casos muito conhecidos. O início da arquitetura moderna brasileira está associada ao processo de construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, que só foi possível pela presença do ministro Gustavo Capanema. Na figura de Juscelino Kubitschek tivemos o idealizador e impulsor do Conjunto da Pampulha, obra marcante na trajetória de Oscar Niemeyer, e da construção da cidade de Brasília, sendo Lúcio Costa o urbanista e Niemeyer o responsável pelos principais edifícios. Em tempos recentes podemos citar a Fundação Iberê Camargo, responsável pela criação do museu de igual nome, autoria do arquiteto português Álvaro Siza Vieira.

Mas o que significa ser um bom cliente? Permitir que o arquiteto faça o que lhe dá na cabeça? Não, o bom cliente não é o milionário que nos dá liberdade total, orçamento ilimitado e que só aparece na hora de receber as chaves da sua casa ou empreendimento. O bom cliente tem que ser um parceiro, alguém que impõe limites, cobra explicações, e assim mantém o arquiteto “na linha”.

O bom cliente é alguém que controla mas não tolhe os movimentos do arquiteto, confia nele mas quer ser convencido de que os seus argumentos são bem fundamentados, acredita mais no seu profissional do que nos amigos −que lhe dão conselhos em outra direção− ou no mestre de obras −que sempre conhece um meio “mais barato” de fazer as coisas.

Para ser um bom cliente, é preciso ter algum conhecimento de arquitetura e urbanismo (sim, pois o cliente pode ser um prefeito ou secretário municipal). Sem esse conhecimento mínimo, como saber o que se quer e −muito importante− como identificar o Arquiteto entre aqueles muitos que só possuem o diploma universitário sem sê-lo.

Adquirir esse conhecimento mínimo de que falo certamente significa um esforço que poucos querem fazer. Mas a sua recompensa é enorme: melhores habitações, locais de trabalho e, no limite, melhores cidades para se viver.

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